Tecnologia nos veículos: por que ela não está acessível para todos?
A tecnologia nos veículos não apenas oferece conectividade e acessórios mais modernos, mas cada vez mais promove maior segurança aos veículos em circulação.
A tecnologia nos veículos não apenas oferece conectividade e acessórios mais modernos, mas cada vez mais promove maior segurança aos veículos em circulação. No entanto, essa tecnologia não está acessível para todos. Geralmente apenas veículos “premium”, que são os mais caros, apresentam toda essa gama de equipamentos que podem salvar vidas. Sobre esse assunto, Celso Mariano entrevistou Paulo Pêgas Ferreira, diretor-presidente do Instituto Zero Morte para a Segurança em Transportes, como você pode ver acima.
Recentemente o especialista entregou um trabalho junto a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e a Organização das Nações Unidas (ONU) que analisa a influência da evolução tecnológica dos veículos na redução da sinistralidade no trânsito e como uma contrapartida do Rota 2030.
“Hoje no Brasil nós temos 10 grandes montadoras. Dessas, temos seis que independente de subsídio, incentivos fiscais do governo, elas vêm sistematicamente investindo no aumento da segurança dos seus modelos. Por outro lado, temos quatro montadoras que fingem que não existe o problema. E, dentre elas, uma é líder de mercado”, aponta.
Pêgas explica que o estudo foi realizado de forma crítica, utilizando dados reais das rodovias brasileiras. “Em vez de eu usar o resultado do Crash test do Latin NCAP eu peguei os dados das rodovias: mortes e feridos graves. Dessa forma, pude analisar, na prática, quanto cada veículo (separado por marca e modelo) está matando e quanto está causando de invalidez permanente”, explica o especialista.
Resultados sobre tecnologia nos veículos
Segundo o pesquisador, os resultados não são animadores. Ele explica que é uma regra em todas as montadoras que os veículos mais luxuosos são os mais seguros. São aqueles que tem seis airbags, ABS, controle de tração e estabilidade. Além disso, alertas de colisão, de pedestre, de ponto cego e câmera de ré. “Esses veículos são perfeitos, mas respondem por menos de 20% das vendas em todo Brasil. Ou seja, os veículos de frota que são aqueles usados pelas locadoras e pelas empresas que fazem o grande volume do que está nas ruas, não possuem toda essa tecnologia pró-segurança”, diz.
Para ele, o que está acontecendo hoje é uma situação trabalhista. “O motorista que usa o veículo para trabalhar e que usa carros mais simples, está sendo exposto a um risco. Isso porque o carro dele não tem seis airbags, não tem controle de tração, não tem controle de estabilidade, não tem sensor de frenagem automática, às vezes nem ABS”, questiona Pêgas.
O especialista aponta que é preciso que o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) passe a exigir mais itens de segurança como obrigatórios. “Não é possível que as montadoras abram mão da segurança por questões financeiras”, conclui.
Veículos seguros: menos mortes no trânsito
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é essencial que os países implementem medidas que tornem as vias e rodovias mais seguras não apenas para os condutores de carros, mas também para os usuários mais vulneráveis, como pedestres, ciclistas e motociclistas. Para isso, um dos pilares é o investimento em infraestrutura e tecnologia de segurança dos veículos em circulação.
Conforme a OMS, veículos seguros desempenham um papel essencial na prevenção de acidentes e na redução da probabilidade de lesões graves.
“Há uma série de regulamentos das Nações Unidas sobre segurança veicular que, se aplicados aos padrões de produção dos países, potencialmente salvariam muitas vidas. Isso inclui exigir que os fabricantes de veículos cumpram as regulamentações de impacto dianteiro e lateral, incluindo controle eletrônico de estabilidade, airbags e cintos de segurança em todos os veículos. Sem esses padrões básicos, o risco de lesões no trânsito – tanto para os que estão nos veículos quanto para os que estão fora deles – aumenta consideravelmente”, orienta a Organização.