Como aprimorar a bateria em veículos híbridos elétricos do tipo plug-in
A bateria de veículos elétricos ou híbridos continua sendo motivo de preocupação de todos os envolvidos no processo: empresas, consumidores e governo. Entenda!
Sustentabilidade, mobilidade urbana, energia limpa, veículos elétricos: todos esses temas estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia. No entanto, ainda há muitas particularidades sobre eles que precisamos não somente conhecer, mas, sobretudo, compreender antes de investir, comprar ou até mesmo conversar sobre o assunto.
Por isso, para entender desde o início, ou seja, o que é um veículo elétrico, passando por suas variações, o desenvolvimento das baterias, como carregá-las e aprimorá-las, assim como, para saber como estamos aqui no Brasil diante deste novo cenário no setor automotivo, o Portal do Trânsito conversou com Cássio Pagliarini, sócio da Bright Consulting, empresa especializada em Consultoria automobilística para o setor automotivo.
Acompanhe!
Portal do Trânsito – Para começar a entender esse novo cenário de veículos, por favor, nos explique o que é um carro elétrico.
Cassio Pagliarini – Excelente pergunta, pois existe diferença entre um carro elétrico e um carro eletrificado.
O carro elétrico é aquele que só tem a eletricidade como fonte de energia, então ele tem baterias que acionam o motor elétrico que fazem o veículo andar. Aí você tem outros tipos de produtos que têm uma eletrificação, são veículos híbridos ou híbridos plug-in, ou híbridos moderados, em que existe o motor à combustão e existe um motor elétrico e os dois trabalham de forma combinada, uma hora funciona só o motor elétrico, uma hora funciona só o motor à combustão, uma hora funcionam os dois motores combinados.
Você tem, ainda, o carro puramente elétrico, que a gente chama de BEV, battery electric vehicle, em inglês; você tem o híbrido, o plug-in e o híbrido moderado.
Portal do Trânsito – E um carro híbrido?
Cassio Pagliarini – Um veículo híbrido é um veículo que tem o motor a combustão e permite que esse motor a combustão movimente o veículo ou carregue as baterias. No caso das baterias estarem carregadas, o veículo pode até andar algum percurso sem que o motor a combustão ligue. Então o híbrido é híbrido porque ele tem os dois motores.
Portal do Trânsito – E o que podemos entender por um carro híbrido elétrico do tipo plug-in?
Cassio Pagliarini – Quando a gente vai para o híbrido plug-in, a gente entra na questão de qual é o tamanho da bateria. Por que o veículo é elétrico? Por que a eletricidade permite que quando você tira o pé do acelerador, quando você vai frear, quando você vai descer uma ladeira, você recupere a energia do veículo em eletricidade, então as rodas, elas capturam esse movimento do veículo e ajudam a frear e transformam isso em carga para a bateria. Num motor a combustão isso não é possível. Numa descida, por exemplo, você não consegue transformar em energia, em gasolina, ou em álcool de volta, mas, em bateria isso é possível, e isso faz com que aumente muito a eficiência do motor, no caso híbrido.
Prosseguindo no plug-in, você tem uma bateria maior do que o híbrido convencional. Você pega o híbrido convencional, por exemplo, que é o Corolla Cross. Ele tem uma bateria inferior a 2 kw/hora. Kw hora é a medida de energia que cabe dentro da bateria.
Um veículo totalmente elétrico ele tem bateria de 50, 60 kw/horas, e a bateria é o fator mais caro num veículo totalmente elétrico a bateria. E, você no meio do caminho, tem um híbrido plug-in, plug-in, por quê? Por que você pega um plug e coloca na tomada, durante a noite e carrega o teu produto, o teu veículo e ele pode andar, 40,50, 80, 150 km somente no modo elétrico.
A quilometragem varia de veículo para veículo e varia de acordo com o tamanho da bateria. Isso permite que você andando no modo elétrico não emita absolutamente nenhum gás pelo escapamento, porque o motor fica desligado, e você pode circular durante a semana quando for ao trabalho, levar as crianças na escola, quando vai ao supermercado, em um regime totalmente elétrico, e no fim de semana, se você for fazer uma viagem superior a esses 50, 60, 80, 150 km e precisar de maior autonomia, você tem o motor a combustão que, a partir de certo momento ele liga e conduz o veículo além de carregar a bateria. Então, o híbrido plug-in, ele tem vantagens do elétrico puro e têm vantagens do híbrido.
Portal do Trânsito – No quesito bateria desses veículos, quais são os benefícios para o meio ambiente e para a mobilidade urbana?
Cassio Pagliarini – A construção da bateria não é algo bom. A construção para você fazer uma bateria do zero você tem que fazer mineração de lítio, mineração de manganês, de muitos elementos químicos mais raros e essa mineração e essa fabricação da bateria é alguma coisa de certo modo poluente.
O descarte das baterias também é problemático. A vantagem da bateria fica na utilização, enquanto ela está sendo utilizada pelo veículo ela fica sendo uma forma de armazenar energia e não ter poluição, porque você carrega na tomada, enche a bateria de carga e pode utilizar o veículo no modo elétrico sem emitir poluição nenhuma. Então, a utilização da bateria é muito boa no quesito de emissão de poluentes, vamos falar de gás carbônico, que não é um poluente, ele é um gás da natureza, mas, ele causa o efeito estufa e o fato de você rodar com o veículo somente na bateria você não emite gás carbônico.
Portal do Trânsito – De que modo as baterias dos carros híbridos elétricos são recarregadas?
Cassio Pagliarini – Elas podem ser carregadas pelo próprio motor do veículo híbrido como eu falei. Quando o motor liga, ele movimenta o veículo, ele carrega bateria ou você pode encostar o carro no seu trabalho, ou na sua casa, pega o cabo liga na tomada e ele vai carregando durante a noite.São as formas de você encher a capacidade das baterias com energia.
Portal do Trânsito – Como é possível aprimorar a bateria em veículos híbridos elétricos do tipo plug-in aqui no Brasil?
Cassio Pagliarini – Hoje, 85% da produção de baterias para veículos no mundo está localizada na China. Não existe nenhuma bateria para veículos em fase industrial aqui no Brasil. A gente tem estudos, empresas trabalhando para tentar desenvolver alguma coisa, mas, hoje se você for montar um veículo elétrico, você compra pacotes de baterias projetadas para esse fim, na China.
O desenvolvimento, hoje, ele tem que lidar com peso, com tamanho e com custo. O custo de todos os minerais durante a pandemia subiram bastante, assim como os commodities, e agora com a Guerra da Ucrânia continuam subindo.
O lítio, por exemplo, valorizou 10 vezes em relação ao preço que tinha há três anos atrás, então, o custo dos materiais é alto. Porém, a fabricação das baterias tornou- se tornou mais eficiente. Então,existe uma equação dos dois lados. A bateria quando ela pode ser mais leve, ela carregando a mesma energia, ela também custa menos componentes, menos lítio, menos manganês, menos minerais na fabricação dessa bateria, ela pesando menos, pode ser menor também. Então, o desenvolvimento das baterias, hoje passa por questões de custo e de tecnologia.
Portal do Trânsito – Pensando no consumidor final, em termos de facilidade e praticidade para carregar a bateria, o que podemos esperar para um futuro próximo?
Cassio Pagliarini – Nós estamos na infância dos carregadores aqui no Brasil. Nós temos pouquíssimos carregadores de extrema rápida recarga. Existem alguns em estradas, alguns em concessionários de determinadas marcas, mas, os carregadores que a gente tem, normalmente em casa, são carregadores lentos. Dessa forma, você vai ficar seis, sete, oito horas carregando o veículo, quando ele estiver com a bateria completamente descarregada.
Em um carregador de altíssima velocidade você consegue em 30 a 40 minutos, encher a carga da bateria, se não 100%, 80 a 90% da carga da bateria. Então, hoje, o futuro aqui no Brasil está no aprimoramento das redes de recarregamento . Ou seja, redes públicas e particulares de recarregamento em que você paga pela energia carregada.
Portal do Trânsito – Para finalizarmos, quais são os maiores desafios para aprimorar a bateria em veículos híbridos elétricos do tipo plug-in?
Cassio Pagliarini – Quem tem que fazer o investimento, porque o Brasil não tem recursos para fazer esse investimento de forma pública. Tem que ser empresas particulares para fazer esse investimento.
O governo brasileiro tem outras prioridades: prioridades de alimentação, de segurança, de escola, de residência. Não dá para investir em alguma coisa que será utilizada por clientes de maior poder aquisitivo. Então, deve ser feito por empresas particulares, obviamente tem que ser feito o mecanismo, uma facilitação, um financiamento público para esse tipo de negócio.