O que falta para que alunos saiam mais preparados para dirigir?
Da redação do Portal do Trânsito
Em uma enquete realizada pelo Portal do Trânsito no período de 23 até 30 de janeiro com 501 internautas, 52% dos alunos acreditam que não terminaram o curso de primeira habilitação preparados para dirigir e encarar o trânsito. Essa é uma discussão antiga e relativa. Antiga, pois há muito tempo, as pessoas dizem que a formação de motoristas deveria mudar. Relativa, pois o nível de aprendizado depende, entre outros fatores, da dedicação do aluno.
Saiba mais:
Avaliação teórica: Alunos se preparam para a prova ou para o trânsito?
Celso Alves Mariano, consultor do Portal e especialista de trânsito, diz que há “oportunidades de melhorias”, em praticamente todas as fases do processo, começando pelo ânimo com que o aluno chega no CFC. Conceitos distorcidos ou frouxos de responsabilidade social, valores e cidadania – que poderiam/deveriam ser melhor trabalhados pela família e pela escola (Art. 76 do CTB) – resultam em candidatos à primeira habilitação focados unicamente em obter a CNH, sem uma real disposição para aprender a dirigir.
Algumas melhorias são apontadas pelo especialista para que alunos saiam mais preparados para encarar o trânsito do dia a dia:
• É fundamental procurar saber com que grau de comprometimento e responsabilidade para com a humanização do trânsito o CFC atua.
Se tem um bom plano de aulas teórico e prático, se tem instrutores que gostam do que fazem, bem preparados e adequadamente “equipados” para a tarefa: muitos se deixam enganar atentando apenas para os veículos disponíveis. É a visão distorcida de que “o importante mesmo é a parte prática”. Inclusive muitos donos de CFC pecam gravemente neste quesito: a parte teórica é a base sobre a qual vai se construir a mentalidade do futuro condutor em relação ao que é, para que serve e como (o trânsito) pode nos servir e quais são nossos direitos e deveres.
• A parte prática, claro, é fundamental.
Convenhamos, esta não tem sido a parte mais difícil. Com metodologia e materiais didáticos adequados para a parte teórica, nas mãos de bons instrutores, e com a parte prática bem resolvida – caso da maioria dos CFCs – é possível formar os bons condutores de que o nosso trânsito precisa.
• Quando o proprietário do CFC não tem a mentalidade de educador, a tendência é de negligência aos princípios mais nobres do CTB.
O resultado é um “CFC despachante”, focado em resolver o problema do seu cliente, mesmo que isso signifique passar ao largo do processo educativo. Muitos escolhem o CFC em função do preço do curso, tratando o processo de formação de condutores como mero empecilho formal a ser transposto para chegar na CNH. É claro que os DETRANs tem uma grande responsabilidade nisso, afinal, quem determina como e qual CFC vai atuar em cada estado é o DETRAN.
Os DETRANs, por outro lado, poderiam provocar um auto-ajuste da qualidade das aulas, por exemplo, com a troca de perguntas ruins, erradas, incompreensíveis e/ou de pouca importância em suas provas por questões relevantes e bem formuladas. O efeito seria a qualificação do processo com um sonoro “agora não tem jeito, vou ter que estudar de verdade para passar”, por parte dos alunos, e um “agora não tem jeito, vou ter que ensinar de verdade para que eles passem”, por parte dos instrutores.
A sociedade, o próprio cidadão, cada um de nós, na medida em que nos apropriemos deste conhecimento e passemos a exigir mais qualidade, estaremos cumprindo um papel fundamental para que a pressão favoreça a evolução do jeito certo.
*Celso Alves Mariano é especialista de trânsito e consultor do Portal do Trânsito.