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Brasil: a cultura da crítica, da corrupção, da vantagem indevida e do mau comportamento


Por Milton Corrêa da Costa Publicado 26/09/2012 às 03h00
 Tempo de leitura estimado: 00:00

A sociedade brasileira, é fato notório, a todo instante dá inúmeros exemplos de atos de corrupção, violência, desrespeito ao próximo, mau comportamento e deseducação, mas paradoxalmente é também extremamente crítica com o que cada um faz. É a célebre cultura que se pode chamar do ‘faço o que eu digo, mas não faço o que eu faço”. Senão vejamos:

Rouba-se o dinheiro público (vide o vergonhoso escândalo do mensalão) e critica-se a corrupção na política, porém troca-se o nosso voto por cestas básicas, migalhas de bolsas-tudo, sacos de cimento, tijolos, alimentação; litros de gasolina; dinheiro, por ameaça e medo das milícias e por falsas promessas de campanha; sonega-se impostos através do caixa dois mas exige-se melhoria dos serviços públicos. Avança-se o sinal de trânsito, dirige-se em excesso de velocidade e alcoolizado ou embriagado; faz-se dos carros uma arma mortífera, em rodovias e vias urbanas; transita-se com motos em zigue-zague fazendo piruetas entre os carros. Escarra-se e joga-se pontas de cigarro na via pública; joga-se lixo em encostas; papel, embalagens e garrafas plásticas nas ruas e reclama-se das enchentes das chuvas pelo entupimento de bueiros e galerias pluviais; compra-se mercadorias em camelôs em áreas não autorizados e reclama-se que impedem a livre circulação de pedestres nas calçadas. Deixa-se de efetuar a vistoria dos carros e polui-se o meio ambiente com monóxido de carbono; joga-se, através de nossas indústrias, CO2 na atmosfera e direciona-se lixo, resíduos químicos e esgoto in natura, para rios, mares e lagoas.

Trata-se com desprezo e indiferença os animais, agride-se, covardemente, mulheres e homossexuais; tem-se torcidas de futebol “organizadas” para o crime e a violência; corrompe-se o guarda de trânsito e exige-se uma polícia incorruptível. Faz-se “gato” de TV e de energia elétrica; mente-se fraudando espertamente o imposto de renda; fura-se filas; pretende-se levar vantagem em tudo; estaciona-se em locais proibidos; grafita-se emporcalhando e pichando paredes; protege-se legalmente menores infratores, que matam e estupram, pelo anacrônico instituto jurídico da inimputabilidade. Faz-se xixi em via pública; opta-se pelo transporte individual em detrimento ao coletivo ou de massa e congestiona-se as vias de circulação; despreza-se o transporte solidário; tem-se transporte público sem conforto para o usuário; destrói-se, como vândalos, trens e ônibus; quebra-se os ‘orelhões’ públicos. Rouba-se a fiação de redes de trem; entope-se bueiros; estaciona-se sobre as calçadas impedindo a circulação de pedestres; dá-se fechadas no trânsito e arranca-se bruscamente cantando pneus e cobra-se educação de trânsito; ouve-se rádios em carros em som desesperador e produz-se ronco estridente de motos numa poluição sonora que fere gravemente os ouvidos do próximo.

Circula-se com carros em péssimo estado de conservação; transita-se sem cinto de segurança nos carros e sem capacete nas motos; bebe-se e dirige-se e depois reivindica-se o direito constitucional de não se submeter ao bafômetro para encobrir a gravíssima infração. Cultua-se músicas de funk (‘funk do proibidão) com letras de apologia ao tráfico e de desafio ao aparelho policial; frauda-se licitações públicas (cartas marcadas); superfatura-se itens de licitação; desvia-se verbas para enchentes e desabrigados; desrespeita-se professores em sala de aula; pratica-se o bullyng contra indefesos; adia-se (sempre) o endurecimento das leis penais; não resolve-se o problema de menores e mendigos abandonados em vias públicas. Fuma-se crack, maconha e cheira-se cocaína, financiando os fuzis do tráfico e a violência, porém exigem plena segurança pública e ainda almeja-se perigosamente descriminalizar drogas colocando a juventude mais ainda em risco, escancarando a porta do proibido.

Enfim, com todas essas mazelas sociais, só resta mesmo fazermos uma mea-culpa para que possamos um dia, quem sabe, nos tornarmos efetivamente uma sociedade civilizada, onde o mau comportamento seja a exceção e não a regra.

As novas gerações precisam de exemplos positivos, hoje muito raros. Precisam de um Brasil melhor, onde haja respeito ao próximo, cidadania consciente, confiança na classe política e no poder público e garantia de uma imprensa efetivamente livre nos princípios de uma democracia plena e não ameaçada em seu direito de investigar e trazer a público a informação verdadeira, sem sensacionalismo e parcialidade. Confiança numa nova polícia, democrática e cidadã, uma agência de serviço social que respeite a todos os cidadãos, independente de raça, cor, credo, sexo, sexualidade, condição social e cultural. Precisamos também conviver numa sociedade onde a lei seja efetivamente igual para todos e que a cultura do “sabe com quem está falando” seja coisa do passado.

Que o comportamento exemplar do Ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão, e de todos os ministros do Supremo Tribunal Federal, a mais alta Corte da Justiça Brasileira, sejam, portanto o início de um novo Brasil, de uma Justiça exemplar, que nos livre efetivamente da crença na impunidade, desencorajando a cultura do mau comportamento, da vantagem ilícita, da falcatrua e do desrespeito com o dinheiro público.

É preciso acreditar que a quebra de paradigmas e a mudança serão possíveis. O primeiro exemplo de cidadania está na correção de atitudes de cada um de nós. Então nossas futuras gerações dirão um dia, com todo orgulho, que vivemos num país onde os exemplos positivos são a regra não a exceção. É preciso acreditar e trabalhar pela mudança. O comportamento ético, consciente, educado e cidadão é possível. Só depende de nós.

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