Conheça alguns pontos que afetam diretamente a qualidade da formação de condutores
As aulas obrigatórias, principalmente as teóricas, que fazem parte do curso de formação de condutores, para obter a primeira habilitação, ainda são vistas por muitos como uma “exigência burocrática”. Isso reforça um claro direcionamento para a “simples aprovação” do candidato, com pouca ou nenhuma prioridade para a educação e conscientização propriamente ditas, distorcendo a verdadeira finalidade do processo como um todo.
Os alunos que estão em busca da tão sonhada CNH (Carteira Nacional de Habilitação), em decorrência dessa mentalidade, enxergam o curso teórico como um obstáculo a ser transposto para obtenção da habilitação.
“É assustadoramente baixo o número de candidatos que encara este aprendizado com seriedade e responsabilidade, como um aprendizado para toda a vida. Na maioria das vezes o que se vê são candidatos exclusivamente preocupados em fazer a prova e tirar nota para passar”, afirma Celso Alves Mariano, diretor da Tecnodata Educacional.
Formação deficiente, baixo nível de instrução, falta de valores, ideias distorcidas de cidadania e imaturidade psicológica são alguns dos fatores que cooperam para que alguns jovens não consigam conduzir veículos automotores de forma adulta e responsável. “O aluno típico do curso de Primeira Habilitação está, quase sempre, convicto de que dirigir é um direito que lhe assiste como cidadão. Desconhece que a CNH é uma permissão e que para obtê-la é preciso candidatar-se e provar sua capacidade para tal”, explica Mariano.
A seguir listamos alguns aspectos que podem contribuir de forma positiva ou negativa na formação de novos condutores.
Metodologia de ensino
Os profissionais de ensino que atuam nos CFCs geralmente carecem de um método de ensino cuja qualidade didático-pedagógica resulte em uma melhor formação de seus candidatos. O que se vê, geralmente, é uma miscelânea de conhecimentos e técnicas empíricas muito próprias de cada instrutor, cujo resultado são planos-de-aula, conteúdos e enfoques diversos em cada CFC, a ponto de parecerem cursos diferentes, quando comparados uns com os outros. Essa disparidade torna praticamente impossível qualquer avaliação comparativa destes estabelecimentos, até pela dificuldade de se escolher critérios balizadores.
Formação do instrutor
Os CFCs contam em seus quadros com instrutores e diretores oriundos dos mais diferentes cursos e regiões do país, não tendo, entre si, uma formação similar, o que resulta em direcionamentos e enfoques didático-pedagógicos diferentes nas aulas que ministram para formar os candidatos à primeira habilitação.
A qualidade da formação de instrutores é ponto crucial, pois é na homogeneidade e no elevado nível de qualificação destes profissionais que se pode sustentar o propósito de obter-se um correspondente bom nível dos condutores recém-habilitados.
Recursos didáticos
É essencial que o instrutor esteja plenamente amparado no exercício da sua atividade, por um completo conjunto de ferramentas didáticas modernas e funcionais, que lhe dê recursos para chegar a bons resultados, mesmo com públicos heterogêneos. O nível dos materiais e métodos utilizados nos cursos teóricos é fator essencial para obter-se uma elevação da qualificação final dos novos condutores.
Avaliação dos alunos
Grande parte dos maus resultados decorre dos atuais sistemas de avaliação dos candidatos, principalmente devido à baixa qualidade dos bancos de questões praticados. Alguns DETRANs estão iniciando a modernização do processo de habilitação, tornando mais rigorosa e inteligente a avaliação dos candidatos. Se os CFCs trabalharem corretamente, fornecendo ao seu público um serviço de qualidade, será dever do DETRAN garantir que os candidatos tenham uma avaliação correta, justa e coerente.
Uniformização dos preços
Quem perde com a concorrência predatória é o candidato. CFCs que anunciam que “cobrem qualquer proposta”, obviamente não estão pensando em qualidade. Existem bons estabelecimentos, preocupados em oferecer um serviço de boa qualidade. Estes, porém, não raro encontram-se em apuros financeiros. Precisam cobrar o preço justo pela qualidade que oferecem, afinal, contratam bons instrutores e utilizam bons materiais didáticos, instalações e equipamentos de qualidade. Frequentemente, porém, perdem seus alunos para uma concorrência desleal e predatória.
Estrutura física
A exigência de uma estrutura física condizente visa valorizar o elemento humano, proporcionando conforto e segurança tanto para os instrutores quanto para os alunos. Apesar de estar prevista na Res. 358/10 do CONTRAN, a estruturação física dos CFCs mostra-se desuniforme, em parte devido à concessão de autorizações de funcionamento provisório, aliada a uma estrutura de fiscalização deficiente. Comparando-se os diversos CFCs de um estado, e até de um estado com outro, é possível encontrar variações acentuadas de qualidade.
Deficiência na fiscalização
A fiscalização muitas vezes é deficitária, o que torna praticamente impossível garantir a qualidade e combater fraude e corrupção no processo. Os maus CFCs, aproveitando-se das deficiências estruturais tornam possível o acesso de candidatos à CNH, sem fazer as aulas obrigatórias e, em casos mais graves, sem prestar qualquer exame.