Táxi, pra que te quero?
Por que queremos exercer nosso sagrado direito de ir e vir sobre nossas próprias rodas? Ainda não consideramos deixar nossos carros na garagem para ir até o ponto tomar o ônibus. Porque ele é muito ruim. Serve só para quem não tem carro ou moto próprios. Há várias motivações por trás deste desejo incontrolável do carro próprio. Por quê? Possivelmente um dos principais motivos seja a liberdade de nos deslocar na hora que bem quisermos, sem ter que esperar o próximo trem ou ônibus, além de podermos ir da nossa garagem até a garagem ou estacionamento do destino. Claro que não é bem assim. Não mais. Mas nos iludimos que ainda seja.
Há uma boa opção de transporte público para usufruirmos desses dois benefícios: o táxi. Aliás é uma ótima opção, pois podemos embarcar na frente de casa, desembarcar no destino, e ainda aproveitar as possibilidades que ter um motorista particular nos oferece, como fazer aquela ligação, verificar os emails ou simplesmente aproveitar a paisagem, além de não precisarmos ficar procurando onde estacionar. Mas o serviço é percebido como caro – não é, se você considerar não investir na compra do seu próprio carro – é demorado e o atendimento deixa a desejar, em muitos casos.
Como serviço público que é, inclusive regulamentado pelas prefeituras, há uma série de exigências para se “colocar um carro na praça” e explorar o serviço. Não basta comprar o veículo e abrir suas portas para clientes dispostos a contratar uma corrida. Bem, até o surgimento do Uber, isso era uma verdade absoluta. Nestes dias em que as chamadas tecnologias disruptivas desmontam conceitos e quebram paradigmas com a força de um tsunami, o status quo vai pro beleléu com uma facilidade inacreditável.
A proposta do Uber está para o táxi tradicional como o celular está para o telefone fixo, este para o telégrafo, ou como o papel foi para o pergaminho. O táxi vai ter que se reinventar. Talvez não precise nem mudar de nome. Uma boa adaptação é possível, creio. Mas vai ter que mudar de conceito. E não são só os taxistas: a legislação, a fiscalização, as tecnologias, etc. Estamos numa fase de transição. E a polêmica é grande. Ou melhor, é enorme. Há quem afirme que não há espaço legal para o Uber e que, portanto, o argumento de que “se não for proibido então pode”, não se aplica neste caso. E há quem afirme, claro, o contrário.
Neste períodos de embate de ideias e confrontos técnico-filosóficos do que é ou do que deveria ser o transporte público, surgem ainda observações sobre aspectos importantíssimos como quem são estas pessoas, estes condutores? É a justa preocupação com a segurança. Recentemente um motorista do Uber nos EUA foi o centro de um triste episódio de violência, mas isso não significa que não tenhamos pessoas violentas, despreparadas, etc, conduzindo um táxi em nossas cidades. Há alguns anos, o taxista poderia ser “qualquer um”, inclusive uma pessoa grosseira, mau motorista, perigoso. Não que hoje esteja tudo perfeito, mas que o nível subiu muito, é inegável. Em cidades como Curitiba, pais contratam corridas para que um taxista busque seu filho na escola ou na balada e o traga para casa ou o deixe no próximo point, com a tranquilidade de que o serviço é bom, confiável, seguro. Essa confiança é muitas vezes intuitiva, pois poucos realmente sabem como funciona o processo de autorização e fiscalização para este tipo de transporte público. Mas no geral, as pessoas “sentem” que dá para confiar.
O Uber é uma ideia cuja implementação enfrentou problemas no mundo todo, sem exceção. Problemas de confiabilidade e problemas jurídicos. Então, ainda veremos muita polêmica e brigas – espero que só entre advogados. Caso o serviço tradicional de táxi não reaja à altura, ofertando serviços tão bons, rápidos e baratos, boa parte do público vai migrar. O cidadão está focado no benefício: transporte de boa qualidade, rápido, barato, de acesso fácil. É por essas e outras que o “problema Uber”, é um problema para os legisladores e administradores públicos.
Mas por falar em soluções disruptivas, uma visão de futuro talvez não muito distante: veículos autônomos. Pergunte pro Google e pra Apple. Isso sim, será disruptivo!
Falei sobre isso na Rádio e-Paraná FM, em 25/02/16. Ouça: