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O BAFÔMETRO está no BANCO dos Réus (você é o juiz!)…


Por ACésarVeiga Publicado 30/05/2017 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h20
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Foto: Arquivo TecnodataFoto: Arquivo Tecnodata

Nas aulas de Química, uma pergunta não sai de moda:
– Professor César, tem como enganar o “bafômetro”?
 
Tal qual o porta-voz do raciocínio, esbarro repetidamente na dedução de que o “bafômetro” seja utilizado no critério do “mau hálito”…(aquela “aragem ruim”, por vezes repulsiva!)
 
E com certeza profunda, creio que dizer ou escrever “bafômetro” equivale expressar no português vulgar:
– Não perciza;
– Nóis fumo;
– Sortero;
…para citar alguns tropeços no idioma. (sim, alguns entenderão o que você deseja expressar, mas o impacto auditivo será colossal)
 
Quem sabe utilizar a denominação correta?
– Pois bem; o recomendável é ETILÔMETRO. (para aqueles não habituados, penso que a palavra oferta um sentido mais “lógico” como veremos a seguir)
 
OBS 01: O dispositivo denominado “etilômetro” tem como finalidade determinar a quantidade de álcool etílico presente nos alvéolos pulmonares daquele cidadão que é submetido ao teste. (então podemos afirmar de modo “simplista” que o ETILômetro é o dispositivo que mede a quantidade do álcool ETÍLico existente no organismo)
 
OBS 02: álcool etílico = etanol. Mas vamos utilizar exclusivamente o termo “álcool etílico” no nosso texto.
 
O propósito “legal” do teste seria investigar a quantidade de álcool etílico presente na corrente sanguínea – de modo direto – do condutor. Mas não é isso que o “etilômetro” realiza, doando desta forma a sensação que não está bem certo do que está fazendo.
 
OBS 03: o Teor Alcoólico Sanguíneo – TAS – fornece a concentração de álcool etílico presente no sangue do examinado. É possível calculá-lo de várias formas, mas conseguir uma medida absoluta e precisa, é “improvável” sem um exame de sangue.
 
Mas há o pensamento que exista a “relação” entre a quantidade de álcool etílico encontrado na corrente sanguínea e aquele que é expirado no aparelho – oriundo dos pulmões -, quando o teste é realizado.
 
Sim, sabemos que o álcool etílico é o mesmo; mas e as quantidades serão? (este é o grande perigo! Seria como julgar implacavelmente os filhos, pelos pais)
 
Na melhor das hipóteses, o teste do “etilômetro” oferta apenas estimativas indiretas da “quantidade” de álcool etílico no sangue do examinado e “não” a quantidade real. (isso motiva a decisões imprecisas quanto ao teor exato desta substância no organismo)
 
Os “etilômetros” estão fundamentalmente baseados em variadas suspeitas em que a “fisiologia humana” executa suas tarefas. (o que faz múltiplas vezes pensarmos que a quantidade exalada pelos pulmões – medida no “etilômetro” -, está relacionada de forma exata, com a quantidade exibida na corrente sanguínea; relação denominada de “taxa de partição/respiração”)
 
OBS 04: significado de “suspeita”: desconfiança; conjetura ou opinião mais ou menos fundada a respeito de algo ou de alguém. Ideia vaga; pressentimento.
 
OBS 05: a “fisiologia humana” é o ramo da ciência que estuda o funcionamento e o equilíbrio do corpo humano, assim, destina-se a explicar os fatores físicos e químicos que estão envolvidos com a origem e o desenvolvimento da vida humana.
 
Sabe-se experimentalmente que a “taxa de partição/respiração” não é constante e pode variar consideravelmente devido a diversos fatores. (o que origina um valor inexato, do teor de álcool etílico real existente no sangue com aquele registrado no “etilômetro” – que é o expirado pelos pulmões)
 
Outro fator importante envolve a “composição do sangue”, mais especificamente o “hematócrito”.
 
OBS 06: “hematócrito” é um exame de diagnóstico que serve para avaliar a porcentagem – % -, de glóbulos vermelhos – hemácias-, no volume total de sangue, ajudando a identificar a anemia, por exemplo.
 
O “hematócrito” para homens é de 47 – isto é, o seu sangue é constituído de 47% de hemácias -, com uma variação de 42% a 52%. Entre as mulheres, o “hematócrito” médio é de 42%, com intervalo de 37% a 47%.
 
OBS 07: além disso, o “hematócrito” do indivíduo pode variar ao longo do tempo em torno de 15%.
 
Infelizmente o “etilômetro” supõe que o “hematócrito” de cada indivíduo é idêntico, independente do sexo ou de qualquer outro fator.
 
O “etilômetro” também depende da “temperatura” do corpo humano – que em média é de 37°C. (cabe enfatizar que cada grau de temperatura produz uma leitura de 3,9% maior no teste)
 
OBS 08: a temperatura corporal média de uma pessoa saudável normal pode ser cerca de 2% maior ou menor do que os assumidos 37°C. (além disso, a temperatura do corpo de uma pessoa pode variar até 1°C, ao longo de um único dia)
 
O corpo humano sob “estresse” pode produzir leituras equivocadamente elevadas. (isto porque a tensão corpórea quando aumenta, ocasiona elevação no fluxo de sangue nos pulmões estimulando alterações na pressão – e isto motiva alterações da quantidade de álcool etílico no sangue)
 
O teste do “etilômetro” também é baseado na suposição de que, no momento da coleta da amostra, a absorção do álcool etílico ingerido foi finalizada pelo organismo. (dois testes de respiração separados ao longo de um determinado tempo seriam recomendados. Resta saber qual deve ser o intervalo de tempo necessário para cada indivíduo examinado)
 
Muitos “etilômetros” são incapazes de distinguir entre o álcool etílico presente na bebida alcoólica e qualquer uma da série de substâncias que ocorrem naturalmente no “ar atmosférico” ou no interior do “organismo humano”, que podem ser confundidas pelo equipamento como sendo álcool etílico – são os famigerados “falsos positivos”.
 
Estima-se que existem muitas substâncias presentes no “ar” que podem ser confundidas com álcool etílico pelo “etilômetro”. Entre elas podemos citar:
# a cânfora – encontrada no tabaco;
# substâncias encontradas em spray para asma;
# substâncias encontradas em aerossóis, tintas, diluentes e produtos de limpeza entre outras.
 
Um determinado número de condições médicas pode levar a leituras elevadas pelo “etilômetro” sem que a pessoa tenha ingerido bebidas alcoólicas. (elas incluem diabetes, refluxo ácido, hérnia do hiato e azia)
 
Fatores “não médicos” também podem levar a leituras elevadas no “etilômetro”, sem o condutor ter ingerido bebidas alcoólicas. Podemos citar:
# eructação – arrotos -;
# etanol na boca proveniente de enxaguante bucal:
# comida entre os dentes, produtos de panificação, copo de leite, alimentos envolvidos com fermentação;
# interferência elétrica – telefones celulares, rádios da polícia etc.
 
Outras fontes de erros incluem a sujeira, umidade, manutenção inadequada, calibragem, procedimentos e utilização incorreta do “etilômetro” pelos responsáveis deste equipamento.
 
Mas retomando a pergunta inicial…
 
Existem maneiras de enganar o “etilômetro” ou não?
– Respondo que “sim”, existe. (basta não ingerir bebidas alcoólicas)
 
Constantemente sigo desejando que o “ato de enganar” continue para sempre um sonho de consumo daqueles insanos infratores.
(pois sonhar não é proibido…)
 
E depois de ministrar esse discurso em sala de aula, observo nos olhos do “discipulado” certa expectativa de algum milagre informativo de última hora…mas sigo inflando os ouvintes de “frustração” e “descrédito” dizendo:
– Mas qual o objetivo de tentar provar que não bebeu, tendo bebido?
 
Bem sei que agindo desta maneira, aterrisso diante de mais problemas do que soluções, pois a moral da história nem sempre é previsível. (e assim a sala de aula adentra naquele imenso silêncio)
 
E aos que transitam pelo universo do “consumo moderado”, terá o professor César uma segunda observação? – sussurra algum valente.
– Sim, tenho! – prontamente replico.
 
– Consumir moderadamente  seria afinal para você amorável aluno…consumir um “dedal”, um “copo” ou uma “jarra” cheia da sua bebida etílica predileta? (a essa e a outras perguntas que normalmente residem na cabeça de todo o mundo, a resposta na verdade é única e muito simples)
 
E então prossigo…
 
Um copo, um gole, uma gota ou uma molécula…se for de álcool etílico, certamente lhe ocasionará mudanças; por vezes até não detectada por aquele que bebe. (mas esteja alerta, pois a mudança ocorre)
 
OBS 09: atualmente 89 países, cobrindo 66% da população mundial – 4,55 bilhão de pessoas -, possuem leis que “limitam” ou “proíbem” dirigir após o uso de bebidas alcoólicas.
 
OBS 10: Não existe medicamento comprovado cientificamente para reduzir o efeito do álcool etílico no organismo. (e isso é dito sem falso testemunho, como andam a sonhar alguns cidadãos pouco alfabetizados)
 
OBS 11: Considerando outros fatores que afetam o TAS – Teor Alcoólico Sanguíneo podemos citar: 

– a idade, gênero, tipo físico, quantidade do tecido gorduroso/muscular, metabolismo, a intolerância ao álcool e fatores hereditários.
 
OBS 12: água e sucos misturados com álcool podem diminuir a absorção, diminuindo também o TAS. Bebidas com gás, como água tônica e os energéticos, aceleram a absorção, deixando o TAS mais alto.
 
OBS 13: a “tolerância” a bebida alcoólica não afeta o TAS, afeta apenas o que você sente. O TAS é medido pela quantidade de álcool no seu sangue. Mesmo que não se sinta bêbado, você pode ultrapassar o limite alcoólico permitido.
 
Mas como muitas vezes a “ética” parece estar escondida em algum lugar dentro do cidadão, convido você a ser no final o “juiz” deste dilema. Proponho seu voto baseado nos três argumentos a seguir:
 
1º) mesmo sabendo que essas informações são perigosas para a ordem estabelecida, você quer uma cultura de ruptura e decide tratar este problema de frente, pois há chances de investigar este tema mais de perto.
 
2º) vai continuar atrás da linha de frente, achando que essas informações não são fundamentais e avançará referindo-se a “elas” com desaprovação puritana e silêncio de sepultura.
 
3º) deseja acreditar que não ter essas “notícias” é uma boa notícia, pois “este saber” pode motivar o cidadão imprudente a sair da jaula. (mesmo que o “etilômetro” não expresse com exatidão o quanto o irresponsável ingeriu, serve como paliativo social, pois oferta ao “insano” à sensação de que pode ser flagrado a qualquer momento)
 
Bem, agora fique à vontade para julgar, ou então vá saborear sua bebidinha etílica…mas se o desejo é “enxaguar a goela”, por favor, não dirija; tenha cuidado ao andar de bicicleta e redobre a atenção ao perambular por aí na condição de pedestre. (pois esse ato pode resultar efeitos que somente poderiam ser descritos como de um “anjo mau”)

Abraços. 

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