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Celular pra quê?


Por Celso Mariano Publicado 02/02/2016 às 02h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h29
 Tempo de leitura estimado: 00:00
Celular no carroNão há atenção que resista ao apelo de um telefone tocando, e não há mente que mantenha uma conversa ao telefone sem dedicar grande atenção. Foto: CanStock

Poucos problemas recentes ascenderam tão rapidamente na lista de fatores que geram acidentes de trânsito quanto o uso do celular. E trata-se de um problema mundial. Por aqui, dirigir usando o telefone celular é Infração Média, dá 4 pontos na CNH e gera uma multa de R$ 85,13. Por enquanto, porque há uma série de pressões surgindo de todos os lados para agravar esta penalidade. Já caminhar ou pedalar usando celular, não dá nada. Se bem que ultimamente tem dado tombos, trombadas e até atropelamentos. E as estatísticas mais recentes têm revelado isso.

A pesquisa divulgada pelo Hospital Samaritano, de São Paulo, na semana passada – que revelou que 80% dos motoristas consultados, de um universo de 4,1 mil pessoas, utilizam os telefones celulares ao mesmo tempo que dirigem, e 42% admitiram que enviam mensagens de texto enquanto dirigem, e 8% afirmaram que não mudariam o comportamento mesmo sabendo das consequências – dá uma boa ideia do tamanho do problema.

Não há meio de comunicação que roube mais atenção do que o telefone.

Marshall McLuhan, conhecido mundialmente pela conceituação de que “o meio é a mensagem”, dizia que o telefone é o “meio frio” por excelência (quanto mais frio, mais exige de nossas mentes): não há atenção que resista ao apelo de um telefone tocando, e não há mente que mantenha uma conversa ao telefone sem dedicar grande atenção. Compromete, inclusive, uma parte da capacidade de processamento visual: é que para sustentar o diálogo, nossa mente precisa “visualizar” o interlocutor. Isso não acontece quando ouvimos rádio ou conversamos com o passageiro. O primeiro por não haver diálogo, e o segundo porque basta um olhada e a necessidade visual já estará atendida.

Por essas e outras é que é proibido. No nosso caso, o “espírito da lei” é que não seja usado de forma alguma, mesmo com fones ou com o sistema de som do carro, via bluetooth. Então, mesmo no viva-voz, não pode.

Aquela olhadinha enquanto espera o semáforo abrir? Não pode. Há duas infrações ao dirigir com o aparelho celular na orelha: sem ambas as mãos (Art. 252, V) e usando o celular (Art. 252, VI), embora, na prática, você só recebe uma (referente ao inciso VI). Ambas são infração Média, 4 pontos e R$ 85,13. O agente de trânsito sempre tem dificuldade nestes casos: se o condutor não estiver com o aparelho na orelha, ou com fone no ouvido, fica quase impossível a identificação da infração.

O tanto de atenção que o condutor perde, varia conforme os recursos do aparelhos, e os que estão sendo utilizados (ler e digitar textos é bem pior; se não pela atenção, pelo tempo dedicado), a habilidade que a pessoa eventualmente tenha para multitarefas, etc. Pilotos de Fórmula 1, ou de avião, por exemplo, têm desenvolvidas grandes habilidades para ver, ouvir, pensar, decidir e agir a partir de múltiplas fontes de informação. Tudo em frações de segundos. E ainda mantêm o carro na pista, ultrapassam os oponentes, ou decolam e pousam a aeronave com segurança. Mas não se engane: isso não é para qualquer um. E há muitas e muitas horas de treinamento para esse tipo de atividade. A maioria absoluta das pessoas tem como limite seguro ligar o rádio ou trocar o CD. Só.

É muita pretensão acharmos que vamos dar conta de manter o nível mínimo necessário de atenção como faria um piloto profissional. Talvez algumas pessoas da “geração nativa da era digital” venham a desenvolver habilidades suficientes, por estímulo e prática. Mas teríamos que segmentar quem dá conta e quem não, e nosso processo de habilitação está longe de chegar a este requinte.

Esta e outras pesquisas têm mostrado que, embora reconheçam os perigos, todos se acham capazes de usar telefones e smartphones sem comprometer a segurança. Trânsito é compartilhamento, por excelência. E todos, percebemos muito pouco os riscos deste complexo ambiente. Confiamos que temos a capacidade suficiente e vamos fazendo… até que aconteça um grande susto ou um acidente. Daí a ficha cai. Tarde demais para evitar a desgraça. Em tempo, talvez, para uma mudança de comportamento. Mas não dá para ficarmos esperando até que todos tenham uma experiência contundente que os torne mais responsáveis no trânsito.

A 50 km/h, uma distração de 3 segundos (uma olhadinha na tela do aparelho), significa uns 40 metros às cegas. Para textos gasta-se uns 20 segundos: nos mesmo 50 km/h, dá para percorrer mais de 300 metros! Eu evito os cálculos porque o brasileiro em geral, não gosta de matemática, o que compromete a atenção no que interessa. Então basta pensar que alguns segundos de distração, são metros às cegas em que estar atento vai fazer falta. Muita falta.

Se não fez até agora, sorte sua. Logo logo vai fazer.

A tecnologia transformou nossos telefones móveis em sofisticados minicomputadores, com funcionalidades antes restritas aos desktops. Com suas telas brilhantes, coloridas e cada vez com maior resolução, os apelos para que ocupem um lugar mais importante do que o próprio painel do carro são irresistíveis para maioria dos mortais. Por isso que a única recomendação realmente eficaz é: desligue antes de começar a dirigir. Pergunte-se: quem está dirigindo quando eu dou atenção ao smartphone?

Falei sobre isso na Rádio E-Paraná Educativa FM, no dia 20/01/16:

 

E também na Rádio CBN Curitiba, no dia 01/02/16, que você pode ouvir clicando aqui, ou no link abaixo:

 

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