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Conheci o “homem de ferro”. E você, já conheceu algum super-herói?


Por Rodrigo Vargas de Souza Publicado 07/12/2018 às 02h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h14
 Tempo de leitura estimado: 00:00
Super-herói no trânsitoFoto: Pixabay.com

No último dia 12 de novembro, morreu aos 95 anos o escritor norte-americano Stan Lee, em decorrência de complicações relacionadas a um AVC. Lee foi um dos grandes nomes dos quadrinhos à frente da Marvel Comics, na qual foi o responsável pela criação de diversos personagens, dentre eles o Homem de Ferro, que fez muito sucesso nas telonas interpretado por Robert Downey Jr.

Assim que recebi essa lamentável notícia, lembrei que já conheci o homem de ferro pessoalmente. Obviamente que não se trata do personagem fictício de Stan Lee. Esse encontro ocorreu há pouco mais de 15 anos. Passei minha adolescência em um subúrbio de uma cidade na região metropolitana de Porto Alegre. Naquela época ainda era possível voltar para casa de festas a pé, mesmo madrugada adentro. E quando não houvesse nenhuma, fazíamos na rua mesmo. Para isso não precisava muito: alguns amigos, um violão e uma garrafa de vinho. Pronto. Assim passamos boas horas da nossa juventude.

Porém, uma noite em especial me marcou permanentemente: exatamente a noite em que conheci esse ícone (ou, pelo menos, a noite em que ele recebera tal alcunha). Cunha, como era conhecido no bairro, era da turma do skate e, naquela noite, fazia algumas manobras na esquina do outro lado da rua. Como não tinha habilidade para sequer parar de pé sobre um skate, me atinha a ficar junto à turma da do violão (e do vinho, é claro).

Essas reuniões ocorriam na via principal do local, conhecida como rua 24, na qual concentravam-se os principais mercados e comércios, muito em função de ser a principal via de acesso ao bairro. Estava sentado com mais uns três ou quatro amigos nas escadas de uma loja que, àquela hora da madrugada, já encontrava-se fechada. De repente, um som alto de aceleração rompe a noite fazendo a música e a cantoria cessar. Um carro branco sobe a rua numa velocidade desproporcional à via. Um som ainda mais alto dos pneus freando faz chamar a atenção daqueles que ainda não tinham percebido a aproximação do veículo. Dentre eles, o distraído skatista, concentrado nas suas manobras. Mas, infelizmente, fora tarde demais.

O silêncio que se fez durante aquele milésimo de segundo entre a frenagem e o impacto foi abruptamente interrompido por dois baques secos. O primeiro das rodas subindo com violência o meio fio. O segundo do corpo do Cunha sendo arremessado sobre o capô, seguido do barulho estridente do para-brisa se partindo em milhares de pedaços. Assim que a energia do impacto foi toda dissipada, destruindo quase que completamente a frente do veiculo, seu corpo, puxado pela gravidade, percorreu o caminho inverso, rolando capô a baixo e esparramando-se inerte no chão.

“Matou”, pensei eu. E, pela cinemática, provavelmente os outros ali também pensaram. Atônitos, todos se entreolharam e correram até o outro lado da rua para tentar ajudar. No mesmo intuito, o motorista pulou para fora do veículo, surpreendendo a todos. Se tratava do “Zóio”, rapaz um pouco mais velho que a nossa “gurizada” e que também morava ali naquela região, uma ou duas ruas dali. Mas o mais surpreendente ainda estava por vir: antes mesmo de chegarmos ao outro lado da rua, repentinamente, num pulo o Cunha estava de pé e, com ar confuso, como o famosos meme do John Travolta, se pôs a olhar para os lados, como a procurar por algo.

 

Milagrosamente ele encontrava-se ileso, sem sequer um corte, hematoma ou arranhão. E, aos nossos questionamentos sobre se estava bem, ele apenas se limitava a responder “Tô, mas cadê meu skate?”. Desde esse dia, seja nas ruas do bairro, seja na escola, o Cunha recebeu a alcunha de “Homem de Ferro”, dentre outras é claro.

E esse foi o primeiro acidente que eu presenciei na minha vida. Não sei se por isso tenha me marcado tanto, ou pelo fato de a vítima do atropelamento ter saído ilesa. Nem o quanto isso influenciou na minha escolha profissional. Procuro pensar que nada na nossa vida ocorre por acaso. E se existe um Deus, ele quis que aquelas três pessoas estivessem ali, naquele exato momento: o Cunha, para aprender a valorizar a vida e acreditar em segundas chances; o “Zóio”, para aprender um lição sobre alta velocidade (espero que tenha aprendido algo…); e, finalmente, eu, para me acostumar com as dezenas de super-heróis que eu viria a ver no futuro, embora a grande maioria desses não mais levantaria do chão.

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