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De carona: Caminhos de ferro representam 30% da matriz nacional de transportes


Por Mariana Czerwonka Publicado 11/02/2017 às 02h00 Atualizado 08/11/2022 às 22h30
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Assessoria de Imprensa Perkons

por Beatriz Souza

Ferrovias no paísFerrovia mais antiga do país, a linha do centro – também conhecida por Central do Brasil – é administrada pela MRS Logística e conecta Rio de Janeiro a Minas Gerais. Foto: Divulgação MRS

Ora abreviada, ora prolongada, a buzina indica a aproximação dos gigantes de ferro. Por mais de 27 mil km de trilhos, concentrados principalmente nas regiões Sul e Sudeste, 3.182 locomotivas atravessam o país munidas de cargas de toda espécie, de combustível a commodities agrícolas, representando 30% da matriz de transportes nacional. Encarregados do translado, cerca de cinco mil maquinistas – conforme registro de dezembro desse ano da Associação Nacional de Transporte Ferroviário (ANTF) – se dedicam a um ofício solitário e são foco desta edição da série “De carona”, produzida pela Perkons para destacar os desafios e a rotina dos profissionais que têm no trânsito o ambiente de trabalho.

Na bagagem, mais de quatro décadas de empresa. José Cordeiro iniciou a jornada na MRS Logística como maquinista e, desde então, já foi inspetor de operação e instrutor de simuladores de trem, posição em que atua há 18 anos. “Presenciei da decadência da rede ferroviária à sua mudança com a chegada da tecnologia. Na década de 1970, percorríamos 90 km em 12 horas e hoje fazemos esse trecho em até 2 horas. Uma das razões para isso é ter todas as informações das condições dos pátios, trajetos e locomotivas concentradas no Centro de Controle Operacional, em Juiz de Fora, e não mais em estações locais. Além disso, antes os trens circulavam em ambos os sentidos em algumas linhas, o que aumentava a espera para cruzamentos”, compara. Com 1200 maquinistas, a MRS Logística administra uma malha de 1.643 km, que atravessa 105 municípios dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Hoje, quem aspira a se tornar maquinista da companhia, leva pouco mais de um ano para atingir a meta. Depois da teoria, aprendida em simuladores, os candidatos se dedicam ao treinamento prático, acompanhados de outro funcionário, onde podem visualizar a aplicação dos conceitos de segurança operacional. “Prevemos a formação de um bom maquinista em tempo razoável e com possibilidade de seguir carreira. Em cinco anos ele já consegue repassar os conhecimentos como monitor”, garante Cordeiro. Ele afirma ainda que o baixíssimo nível de desistência é uma característica do segmento da ferrovia. “Os primeiros treinamentos são filtros e por isso é raro termos uma admissão seguida de desistência. Parece que todo o ambiente da ferrovia vai para o sangue do candidato e abre espaço para a sede de aprendizado”, brinca.

Uma profissão que exige estado de alerta constante

Mesmo fascinados pelo universo da ferrovia, os maquinistas se deparam diariamente com desafios que exigem sacrifício. Um deles consiste em conciliar os horários atípicos das escalas com a vida social. As folgas, distribuídas em dias aleatórios, se intercalam com as viagens que podem ocorrer a qualquer momento da semana, durante o dia e de madrugada. Cordeiro levou a tradição do trabalho em ferrovia adiante com o filho, que também é maquinista, e garante que as concessões continuam evidentes na rotina profissão. “Vejo meu filho abrir mão de algumas coisas em função do trabalho, assim como sempre tive que fazer. Se vai a uma festa, por exemplo, e se apresentará no dia seguinte pela manhã, precisa se resguardar, pois terá que estar lúcido e atento a todo instante” completa. Porém, o estado de alerta do profissional não elimina as chances de acidentes. Nos anos em que atuou como maquinista ele presenciou dois óbitos que deixaram marcas emocionais por muito tempo. Mesmo com o trauma, ele é categórico: “Uma vez ferroviário, sempre ferroviário”.

Conforme explica o gerente geral de comunicação da MRS, Marcelo Kanhan, a segurança do trânsito depende de um senso de cooperação. “É preciso entender que dentro daquele monstro de metal tem um ser humano, que pode fazer pouco em uma situação de risco. Se o maquinista avistar um motorista atravessando a linha a 400 metros de distância, por exemplo, vai acionar o freio de emergência, mas ficará em uma situação de impotência pelo peso dos trens”, frisa.

Kanhan lembra que grande parte dos acidentes ferroviários ainda é resultado da imprudência, realidade que se transporta, inclusive, a nível global. Outro fenômeno cada vez mais notório nos acidentes em ferrovias é a distração dos pedestres motivada pelo uso do celular e de fones de ouvido.

Para estabelecer uma cultura de segurança nos locais percorridos pelos trens, campanhas de conscientização são a grande aposta da empresa. “Muita gente ainda não entende os riscos de uma ferrovia. Ela pode ter sempre estado ali, mas o mundo mudou e é inviável coexistir com ela como se fazia há 30 anos. Apostamos muito na criação de uma nova cultura e na importância de preparar as novas gerações para a convivência com esse meio de transporte”, esclarece. Os esforços parecem ter surtido efeito. De janeiro a novembro de 2016, foram registrados cinco acidentes na região do Vale do Paraíba paulista, redução de 37% em comparação a 2015.

Capacitação é essencial

Para garantir a qualificação dos profissionais, a Rumo, que conta com 1600 maquinistas e administra 12 mil km de linhas férreas em seis estados, mantém, há 16 anos, o programa Academia Rumo.  Composto por seis diferentes escolas, cada uma voltada à uma área de atuação, o programa de formação prioriza cursos de integração e aprimoramento.

“Apesar da importância histórica das ferrovias, há falta de pessoal com a qualificação ideal, em especial maquinistas. Assim, a Academia está se tornando a principal porta de entrada dos profissionais”, relata a gerente de Recursos Humanos da empresa, Daniele Theodorovicz.

A qualificação para maquinistas, que capacita 150 profissionais por ano, se estende de 10 a 12 meses e é precedida por 120 horas de treinamento teórico e 500 horas de treinamento prático. Um dos egressos da Escola de Maquinistas é Luiz Balbino, que há pouco mais de dois meses assumiu o posto. “Fazer os cursos da Academia trouxe crescimento para a minha carreira, já que eu comecei trabalhando na via, depois fui para manobra e só então passei a atuar como maquinista. Me senti motivado a agarrar as oportunidades de qualificação”, conta. Para ele, o maior desafio do ofício é, também, aquilo que mais desperta paixão. “Todo dia aprendemos uma coisa nova. Isso é o que me faz gostar do que eu faço e querer levar esse desafio para outras áreas da minha vida”, conclui.

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