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Para especialista uso do simulador terá pouca eficiência


Por Mariana Czerwonka Publicado 27/07/2015 às 03h00 Atualizado 08/11/2022 às 22h47
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Uso do simuladorUma hora é obrigatório. Depois, torna-se facultativo. Aí, a surpresa: volta a ser obrigatório. Esse é o resumo da situação conflitante em torno da exigência do uso de simuladores em autoescolas. Segundo o especialista Celso Alves Mariano, diretor do Portal do Trânsito, há muita polêmica em torno da forma com que o Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) está tratando o assunto. “Há um desgaste do órgão com toda a opinião pública, parece que o trânsito no Brasil não tem pai nem mãe. Desde o kit de primeiros socorros, que foi obrigatório e depois deixou de ser, até casos mais recentes como o extintor do tipo ABC, o exame toxicológico e a obrigatoriedade das cadeirinhas em veículos de transporte escolar”.

Na semana passada, o CONTRAN, através da Resolução 543/15, decidiu tornar novamente obrigatório o uso do simulador de direção veicular no processo de habilitação para candidatos à categoria B (carros) e pegou muita gente de surpresa. “Nós estamos indo na contramão, não é colocando um simulador que teremos a garantia de dias melhores no trânsito e nem que os candidatos estarão mais preparados. Em minha opinião, e de tantos outros, esse negócio foi criado simplesmente para atender interesses políticos e econômicos”, opina Nelson Muraqui Junior, proprietário do CFC B Total, em Taboão da Serra/SP.

Além disso, muitos se mostram resistentes, devido à crise econômica pela qual passa o Brasil. “O simulador está girando em torno de R$ 43 mil, mais R$ 2 mil a cobrança mensal para armazenar as aulas dadas. Este valor será distribuído aos candidatos à habilitação, hoje uma CNH não fica barata e amanhã ficará ainda mais cara com o simulador no pacote. Todos nós estamos passando por uma crise jamais vista, onde e como a maioria dos CFCs encontrarão condições de adquirir um deste?”, pergunta Cary Bacchi, do CFC Minas Gerais.

Mesmo diante de toda polêmica, muitos proprietários de Centros de Formação de Condutores, principalmente aqueles que já tiveram contato com o simulador, são a favor do uso do equipamento. “No nosso CFC temos dois simuladores e usamos desde que o DETRAN/RS passou a exigir. Vemos como um importante investimento na qualificação dos condutores. Apesar do custo alto, é evidente a melhoria na qualidade da formação do condutor, já que desenvolve algumas situações e manobras que na via pública local não seria possível, como por exemplo rotatórias que não existem em nossa cidade”, argumenta Eduardo Cadore, diretor de ensino e instrutor do CFC Cadore de São Luiz Gonzaga/RS.

Para Celso Mariano, o problema não é a tecnologia usada, pois o uso do simulador já é consagrado em outras áreas. “Nenhum piloto de avião tira do chão um Boeing ou Airbus sem ter passado por horas de treinamento num simulador de voo. A causa de tanta polêmica está mais na forma atrapalhada da implementação, que gera muitas resistências”, diz. De acordo com Mariano, o uso de simuladores na Primeira Habilitação pode sim contribuir, mas não devemos esperar nenhum milagre. Ele aponta muitas outras melhorias no processo de formação de condutores que deveriam ser feitas antes, e que seriam de implementação bem mais simples e barata. Cita como exemplo a qualificação dos Bancos de Questões dos DETRANs que, com perguntas mais bem elaboradas, poderia influenciar de forma contundente a qualidade do processo. “Com perguntas inteligentes nas provas, os CFCs teriam necessariamente que melhorar suas aulas, investindo em metodologia de ensino, bons materiais didáticos, e cursos de aprimoramento para seus instrutores”, afirma.

Mariano observa ainda que a fase em que está proposta a utilização do equipamento, no meio do curso, quando o foco do aluno está em aprender a controlar o veículo, é um desperdício. “Um simulador seria muito mais útil no final do processo, quando o aluno já domina o carro, mas não tem nenhuma experiência em dirigir sozinho, enfrentar tráfego pesado ou viagens em estradas e rodovias. Poder viver a experiência de conduzir em condições adversas, ainda que num ambiente virtual, desde que em um bom simulador, seria precioso. Nossa realidade é que o curso atual está otimizado para o aluno passar na prova, não propriamente para formá-lo como condutor. Este aprendizado final, temerosamente, acontece longe das autoescolas, nas ruas. Seria bem melhor para todos que acontecesse em um simulador”, conclui.

Enquete realizada pelo Portal do Trânsito mostra que a opinião pública está bem dividida. Até o fechamento desta reportagem, do total de participantes 52,8% são a favor do uso do simulador enquanto 47,2% se disseram contra a obrigatoriedade da tecnologia no processo de formação de condutores.

Dentro desse assunto, o que é unânime é a necessidade de algo ser feito para diminuir o índice de mortes no trânsito brasileiro. “A cada 10 minutos uma pessoa morre em nossas ruas, avenidas, estradas e rodovias. E inclusive nas calçadas. E o perfil típico dessas vítimas é de jovens, homens e em idade produtiva. Já pensou se isso continuar assim, como estaremos em 2050, 2080, em relação aos países que já aprenderam que morrer no trânsito não é aceitável? Temos um Código de Trânsito que determina, e isso já fazem 17 anos, que a Educação para o Trânsito é parte indissociável da receita para um trânsito humanizado. Mas nos comportamos como se o trabalho dos CFCs e aplicação de multas fossem resolver nosso atraso”, conclui o especialista.

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