06 de dezembro de 2025

Helsinque zera mortes no trânsito: rigor na formação de condutores e políticas públicas explicam o resultado


Por Mariana Czerwonka Publicado 19/08/2025 às 07h30
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Helsinque formação de condutores
Helsinque estreitou suas vias para desencorajar altas velocidades. Foto: fotonen para Depositphotos

Entre julho de 2024 e julho de 2025, Helsinque, capital da Finlândia, alcançou um feito impressionante: um ano inteiro sem nenhuma morte no trânsito. O dado, revelado no artigo de Adele Peters, chama atenção porque mostra que cidades podem, sim, mudar a realidade da violência viária quando investem em planejamento, fiscalização e formação de qualidade.

A comparação é inevitável. Enquanto Helsinque, com cerca de 700 mil habitantes, registrou zero mortes, Washington, D.C., com população semelhante, teve 52 vítimas fatais no trânsito em 2024. No Brasil, Ribeirão Preto, também com número próximo de habitantes, registrou mais de 100 mortes no mesmo ano.

O que explica tamanha diferença?

Redução de velocidade e redesenho urbano

Conforme o artigo de Adele Peters, Helsinque reduziu de forma radical os limites de velocidade. Hoje, 60% das ruas têm limite de 30 km/h. A cidade também estreitou as vias e plantou árvores próximas ao meio-fio para desencorajar altas velocidades.

Essa mudança fez diferença: uma pessoa atropelada a 50 km/h tem até oito vezes mais risco de morrer do que em um impacto a 30 km/h.

Fiscalização rígida e multas proporcionais à renda

Outro ponto destacado por Adele Peters é o sistema de fiscalização: dezenas de câmeras automáticas registram excessos de velocidade, e as multas são calculadas de acordo com a renda do motorista. O caso mais famoso ocorreu em 2023, quando um milionário foi multado em €121 mil (cerca de R$ 765 mil) por exceder o limite.

Esse modelo reforça a percepção de justiça e desestimula a reincidência.

Incentivo ao transporte público e à mobilidade ativa

De acordo com o artigo de Adele Peters, um terço da população de Helsinque vai ao trabalho de transporte público, 36% a pé e 11% de bicicleta. Esse resultado só foi possível porque, nos anos 1960, a cidade rejeitou a ideia de priorizar rodovias e decidiu investir em bondes, ciclovias e transporte coletivo.

Com menos carros nas ruas, os riscos diminuem e o trânsito torna-se naturalmente mais seguro.

Formação rigorosa dos condutores

Mas há outro fator essencial: o processo de formação dos motoristas na Finlândia. Para conquistar a habilitação, o candidato precisa passar por aulas teóricas e práticas obrigatórias, além de um treinamento específico de reconhecimento de riscos, que inclui quatro aulas práticas.

Após aprovado, o novo condutor entra em um período probatório de dois anos. Nesse tempo, se cometer duas infrações graves, pode ter a licença suspensa e precisa realizar cursos de direção defensiva para recuperá-la. Esse acompanhamento contínuo é um diferencial em relação ao Brasil, onde o motorista recebe a CNH definitiva após um ano, sem exigência de formação complementar.

O contraste com o Brasil

Enquanto a Finlândia fortalece o rigor e a pedagogia na formação, no Brasil discute-se justamente o oposto: flexibilizar as regras e até extinguir a obrigatoriedade das aulas em autoescolas.

Especialistas alertam que essa mudança poderia ser perigosa. O exemplo de Helsinque mostra o caminho contrário: investir em educação, fiscalização e planejamento urbano é o que garante resultados consistentes na redução de mortes.

Aprendizado para o futuro

A experiência finlandesa ensina que não existe “solução mágica” para o trânsito seguro. Helsinque só alcançou um ano sem mortes depois de décadas de investimentos consistentes, tanto na reestruturação urbana quanto na exigência de formação adequada para motoristas.

Como lembra o artigo de Adele Peters, a cada acidente fatal na Finlândia, equipes especializadas analisam as causas e reconfiguram cruzamentos e vias quando necessário. Esse olhar permanente para a melhoria contínua ajuda a consolidar um sistema viário mais humano.

O recado que fica é claro: rigor e investimento salvam vidas

Para Celso Mariano, especialista em trânsito e diretor do Portal do Trânsito, o Brasil precisa refletir:

“Queremos de fato reduzir as mortes no trânsito? Então precisamos investir em políticas públicas consistentes e em formação de condutores de qualidade. É isso que faz a diferença entre um trânsito que mata e um trânsito que preserva vidas”, conclui.

Mariana Czerwonka

Meu nome é Mariana, sou formada em jornalismo pela Universidade Tuiuti do Paraná e especialista em Comunicação Empresarial, pela PUC/PR. Desde que comecei a trabalhar, me envolvi com o trânsito, mais especificamente com Educação de Trânsito. Não tem prazer maior no mundo do que trabalhar por um propósito. Posso dizer com orgulho que tenho um grande objetivo: ajudar a salvar vidas! Esse é o meu trabalho. Hoje me sinto um pouco especialista em trânsito, pois já são 11 anos acompanhando diariamente as notícias, as leis, resoluções, e as polêmicas sobre o tema. Sou responsável pelo Portal do Trânsito, um ambiente verdadeiramente integrador de informações, atividades, produtos e serviços na área de trânsito.

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